E o burro será ele?
Nuno Farinha em Record

Nuno Gomes é provavelmente um dos mais jogadores mais discutidos e escrutinados nas últimas duas décadas de futebol em Portugal. Nele, quase tudo serve para discussões, análises e teorias da mais variada espécie. Há anos, por exemplo, que se debate se Nuno Gomes deve jogar sozinho na frente de ataque ou com um companheiro ao lado. É recorrente trazer para a conversa as duplas de outros tempos com Jimmy, ainda no Boavista, e mais tarde com Brian Deane, já na Luz. Porém, poucas vezes se diz que foi com Nuno Gomes a jogar sem ninguém ao lado que o Benfica foi campeão pela última vez. É por esquecimento, seguramente.

Vá lá perceber-se porquê mas há também essa ideia feita de que o número 21 dos encarnados não marca golos. Ou, se faz, faz poucos. O problema é que tem uma folha de serviço – entre Boavista, Benfica, Fiorentina e Seleção – que o atira para um número impressionante de quase 250 golos só em jogos oficiais. Também pouca gente repara nisso e é, obviamente, por esquecimento.

Os últimos tempos têm ainda sido marcados por outras discussões. Por exemplo: não será melhor, em vez de estar na frente, Nuno Gomes jogar atrás dos avançados? O homem está no ranking dos melhores marcadores da história do Benfica e da Seleção Nacional (aqui, apenas atrás de Pauleta, Eusébio e Figo), portanto, o melhor é afastá-lo cada vez mais da baliza… Ideia genial, com certeza.

Discute-se, até, se Nuno deve ser capitão do Benfica. Então, se está cada vez mais tempo no banco, não é melhor pensar noutro para o cargo? A concorrência de Nuno Gomes é fortíssima: Cardozo, Saviola, Keirrison, Weldon e ainda Mantorras. Há um ano era Suazo. Antes foram tantos, tantos que não cabem neste espaço: de Paulo Nunes a Miccoli, passando por João Tomás, Cadete, Karadas, Pringle, Marcelo, Saunders, etc. Todos serviam, todos vinham para resolver o que o número 21 não conseguia, mas também passaram e o Nuno, por qualquer mistério que ninguém percebe, ainda anda por lá.

A discussão mais recente foi com a renovação do contrato, chegando-se à situação bizarra de ter esperar pelo último dia para se perceber que o capitão, afinal, iria continuar na Luz. Com 33 anos, o avançado estava à mercê de todas as análises. Ora se dizia que era muito velho para renovar, ora se entendia que era muito novo para arrumar as botas. Fantástico.

Em Florença, única experiência que viveu no estrangeiro, a herança não podia ter sido mais difícil. Foi “apenas” substituir Gabriel Batistuta, o maior goleador da história do clube. A Fiorentina deu quase 20 milhões por ele, Nuno marcou 12 golos na série A e o clube faliu. E escolheu regressar à Luz… a custo zero! Dois anos depois, ironia das ironias, estavam a pedir-lhe para baixar o salário, coisa que não deixaram de pedir até hoje. E esta época, miraculosamente, já leva 2 golos com apenas 143 minutos em campo. Estranho, não?

Na Seleção, então, a injustiça é ainda maior. Mesmo vivendo quase sempre na sombra de Pauleta, esteve nas fases finais (Europeu e Mundial), de 2000, 2002, 2004, 2006 e 2008. E estou desconfiado que se Portugal não estiver em 2010 a culpa será do Nuno. Aliás, como se vê, só pode!

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