“Durante um jogo, uma equipa passa por várias fases, a exigir diferentes formas de vida. É o que se chama “entender o jogo”.Quique Flores falou disso em Berlim após um final difícil para o Benfica, incapaz de esconder a bola. No fundo, faltou ao Benfica entender o jogo nessa fase, depois de estar a ganhar.Para esse superior entendimento das mutações do jogo são indispensáveis jogadores com sensibilidade táctica e técnica especial. Trata-se de perceber qual o melhor ritmo para a equipa, segurar ou soltar a bola, como ocupar os espaços. A entrada de Suazo trouxera maior mobilidade ao ataque, mas, depois do golo, era preciso maior capacidade para gelar o jogo.O Benfica tem poucos jogadores que entendem o jogo nessa fase. Katsouranis é um deles, num espaço fundamental nessa missão. A sua saída desequilibrou a equipa que, sem ele, deixou de reconhecer essa zona, perdendo a posse de bola. O jogo acelerou para o lado alemão.Há um jogador, porém, que sabe entender essa mutação do jogo. Quer nos ritmos, como a ocupar os espaços. Dizem que falha mais golos do que marca, mas não foi por isso que há tempos disse não se sentir um goleador. Foi porque sabe entender o jogo também noutras zonas além da área. É Nuno Gomes, claro. O seu passe para a desmarcação e golo de Di María, recuando para ganhar espaço para o passe, e a forma como sabe buscar jogo a esses outros territórios demonstram como deve jogar um jogador inteligente. Aquele que percebe como o jogo muda e saber reagir perante as suas diferentes faces.Metamorfoses tácticas e técnicas que só jogadores extra-sensoriais conseguem detectar. São os “leitores” que o Benfica de Quique Flores precisa.Tanto em Berlim como em Lisboa.”
Entender o jogo